
...o silêncio agrada e comporta
as vezes afronta e muitas conforta...
Para mim, foi aqui que tudo começou. Sozinha, mas recheada, as palavras vieram vindo como que quase indo e chegando para cá, chegando por aqui, chegando pra ficar, estacionadas modo planta para você ler. O a mais de tudo aqui é que por traz delas há um algo em parte, a parte ou a partir... há o que costumamos chamar de coração. Aquele que bate e avisa que algo vai sair ou chegar, avisa os porques e apesar de poder doer muito, muito mais faz sorrir, faz alguma coisa arrepiar, faz digerir. Cega e surda mas confere confiar de jeito que com ele quase tudo se faz passar, se verdadeiro...o danado não se engana. Tanto é que a pouco, após um dia extenso de alegrias ínfantis, em um lugar onde a sensação é de que quase tudo pode acontecer, ouvi um conto de Mia Couto enquanto aguardava solta um chegar de papéis e ao encontrar outro, não mais ali, agora aqui, um banho doce salgado aportou meus olhos.
O Menino Que Fazia Versos, esta foi a história que encontrei por assim dizer e que conta sobre o filho de um mecânico que a sofrer poderia estar, e, por isso, sua mãe leva-o a pedido do pai ao médico para que ele descubra porque o menino apenas e só, não para de escrever. Um trecho diz:
"- Dói-te alguma coisa ?
- Dói-me a vida, doutor.
- E o que fazes quando te assaltam essas dores ?
- O que melhor sei fazer, excelência, é sonhar...
...- Isto que faço não é escrever, doutor.
Estou, sim, a viver."
Sonhar era o que o pai do menino havia recomendado a ele não fazer, na verdade recomendou-lhe sonhar longe já que o próprio teria receio de sonhos. Porém o sonho levava o menino a escrever e escrever para ele era viver. Fatos simples e indissossiáveis.
O conto alerta que isso seja um distúrbio, aos olhos dos pais, mas, aos olhos do menino
palavreiro estaria ele mais e mais a viver a cada nova palavra, a cada novo verso movido por um sonho. Confesso...molhei os olhos porque me vi nas entrelinhas. O sonho também é o que me move e isso é de amedrontar qualquer pai onde nele inteiro possa pulsar um coração.
Pai, obrigada por me permitir sonhar ainda que esta escolha lhe tire o sono!
Te amo mais e mais a cada dia, por sua escondida e delicada ousadia de ser quem é,simples e direto ou indireto assim, nos protegendo e defendendo a cada instante do mundo cinza que a cada dia tento pouco a pouco colorir!
Juliana Carvalho CarnascialAssim nascida... JulliPop