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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Estranhezas



Os tempos estão de estranhezas. Assim como o sol nos últimos dias some de repente e dá lugar a um cinza mórbido e a um gelado vazio, tem acontecido em meus dias de modo elástico... ainda bem. Óbvio que prefiro os momentos de doçura do céu azul que trazem calor e bons ares. Nada contra o frio, mas em demazia alastra um espaço quase desanimador. O lado bom de tudo isso é que nesta estância do entristecer mora a eminência, pois ninguém quer ficar triste, oras...e, é nesta eminência que muito pode surgir. Nela mora o sonho, nela reside a fé. Aquela que não enxergamos nem podemos tocar, mas que tem força suficuente para acordar nosso coração. Ela, esta tal de tamanho incomensurável e forma a se imaginar é a responsável pela sequencia positiva de fatos a acontecerem em nossos dias.
Quando o frio chega, acreditar com muita força no calor é o que poderá aquecer.
Ando assim, acreditando com muita força no calor para ver se o céu azul se estabelece constante como background feliz dos meus dias...


"Somos feitos da mesma matéria dos nossos sonhos"
Shakespeare

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Estou, sim, a viver...



...o silêncio agrada e comporta
as vezes afronta e muitas conforta...

Para mim, foi aqui que tudo começou. Sozinha, mas recheada, as palavras vieram vindo como que quase indo e chegando para cá, chegando por aqui, chegando pra ficar, estacionadas modo planta para você ler. O a mais de tudo aqui é que por traz delas há um algo em parte, a parte ou a partir... há o que costumamos chamar de coração. Aquele que bate e avisa que algo vai sair ou chegar, avisa os porques e apesar de poder doer muito, muito mais faz sorrir, faz alguma coisa arrepiar, faz digerir. Cega e surda mas confere confiar de jeito que com ele quase tudo se faz passar, se verdadeiro...o danado não se engana. Tanto é que a pouco, após um dia extenso de alegrias ínfantis, em um lugar onde a sensação é de que quase tudo pode acontecer, ouvi um conto de Mia Couto enquanto aguardava solta um chegar de papéis e ao encontrar outro, não mais ali, agora aqui, um banho doce salgado aportou meus olhos. O Menino Que Fazia Versos, esta foi a história que encontrei por assim dizer e que conta sobre o filho de um mecânico que a sofrer poderia estar, e, por isso, sua mãe leva-o a pedido do pai ao médico para que ele descubra porque o menino apenas e só, não para de escrever. Um trecho diz:

"- Dói-te alguma coisa ?
- Dói-me a vida, doutor.
- E o que fazes quando te assaltam essas dores ?
- O que melhor sei fazer, excelência, é sonhar...
...- Isto que faço não é escrever, doutor.
Estou, sim, a viver."


Sonhar era o que o pai do menino havia recomendado a ele não fazer, na verdade recomendou-lhe sonhar longe já que o próprio teria receio de sonhos. Porém o sonho levava o menino a escrever e escrever para ele era viver. Fatos simples e indissossiáveis.
O conto alerta que isso seja um distúrbio, aos olhos dos pais, mas, aos olhos do menino palavreiro estaria ele mais e mais a viver a cada nova palavra, a cada novo verso movido por um sonho. Confesso...molhei os olhos porque me vi nas entrelinhas. O sonho também é o que me move e isso é de amedrontar qualquer pai onde nele inteiro possa pulsar um coração.

Pai, obrigada por me permitir sonhar ainda que esta escolha lhe tire o sono!
Te amo mais e mais a cada dia, por sua escondida e delicada ousadia de ser quem é,simples e direto ou indireto assim, nos protegendo e defendendo a cada instante do mundo cinza que a cada dia tento pouco a pouco colorir!

Juliana Carvalho Carnascial

Assim nascida... JulliPop